O cancro de fígado é dividido em duas categorias: o primário do fígado e o secundário, ou metastático (originado em outro órgão e que atinge também o fígado). O termo “primário do fígado” é usado nos tumores originados no fígado, como o hepatocarcinoma ou carcinoma hepatocelular (tumor maligno primário mais frequente), o colangiocarcinoma, angiossarcoma (tumor do vaso sanguíneo) e, na criança, o hepatoblastoma.
Tipos de Cancro de Figado:
Hepatocarcinoma: O sudeste da Ásia, Japão e África do Sul apresentam uma incidência particularmente alta de carcinoma hepatocelular. O carcinoma hepatocelular ocorre em uma frequência três vezes maior em homens do que em mulheres. A forma fibrolamelar do carcinoma hepatocelular acomete pacientes mais jovens (5-35 anos) e, quando ressecável, o seu prognóstico é tido por alguns como melhor em comparação com os outros hepatocarcinomas.
Colangiocarcinoma: O colangiocarcinoma é responsável por 5% dos casos de tumor primário do fígado e ocorre geralmente entre a 6ª e 7ª década de vida.
Metástases Hepáticas: Estudos de necrópsia mostraram que pacientes que morrem de alguma forma de cancro podem apresentar metástase para o fígado em até 35% das vezes durante o curso da doença. Os tipos que mais dão metástase para o fígado são:
- Carcinoma do pâncreas
- Carcinoma colo-retal
- Carcinoma de estômago
- Carcinoma da mama
- Carcinoma do esófago
- Carcinoma do pulmão
- Tumor carcinóide.
“Estima-se que 23% dos casos novos de pacientes com cancro colo-retal apresentem-se já com metástase hepática isolada. Estes casos são tratáveis com cirurgia.”
CAUSAS
O cancro do fígado pode surgir devido a problemas como uma cirrose hepática, causada por infecções virais como a Hepatite B e C e também pelo abuso de álcool. O acúmulo de gordura no fígado ou obesidade, hipotireoidismo e síndroma metabólica são também causas deste cancro.
FACTORES DE RISCO
Hepatocarcinoma: Cerca de 50% dos pacientes com carcinoma hepatocelular apresentam cirrose hepática, que pode estar associada ao alcoolismo ou hepatite crónica, cujo fator etiológico predominante é a infecção pelo vírus da hepatite B e C, que estão relacionados ao desenvolvimento de câncer de fígado. Em áreas pendémicas, a esquistossomose é considerada fator de risco.
Atenção especial deve ser dada à ingestão de grãos e cereais. Quando armazenados em locais inadequados e húmidos, esses alimentos podem ser contaminados pelo fungo aspergillus flavus, que produz a aflatoxina, substância cancerígena ligada ao Hepatocarcinoma, além de doenças relacionadas com o depósito de ferro no fígado. O tempo de vida após o diagnóstico de um paciente com o hepatocarcinoma clinicamente detectável é extremamente curto. Assim considerando, o índice de incidência passa a ser equivalente ao de mortalidade.
O hepatocarcinoma possui a possibilidade de prevenção, sendo essa classificada em primária e secundária. A prevenção primária é baseada principalmente na interrupção da transmissão do vírus da hepatite B, através da utilização de vacinas. A prevenção secundária depende da detecção precoce do tumor, constando da remoção cirúrgica quando o tumor ainda não produziu repercussão clínica, mas já foi detectado pela dosagem no sangue de um marcador tumoral chamado alfafeto-proteína, que é uma substância produzida em 40% a 70% dos fígados acometidos pelo cancro, mas não pelo fígado normal.
Colangiocarcinoma: O colangiocarcinoma está relacionado com afecções inflamatórias das vias biliares, principalmente com a infestação por um trematódio, bastante frequente nos países asiáticos e africanos, entre outros fatores, alguns desconhecidos.
Angiosarcoma: O potencial carcinogénico das substâncias químicas como o cloreto de vinil, os arsenicais inorgânicos e o Thorotraste está associado ao angiossarcoma.
SINTOMAS
Os sinais e sintomas dos pacientes com o carcinoma hepatocelular são:
- Dor abdominal
- Massa abdominal
- Distensão
- Anorexia
- Mal-estar
Alguns pacientes poderão evoluir com ruptura espontânea do tumor, caracterizada por dor súbita no hipocôndrio direito de forte intensidade, seguida de choque hipodérmico por sangramento intra-abdominal.
DIAGNOSTICO
A tomografia computorizada, quando realizada com contraste endovenoso dinâmico, isto é, com cortes sem contraste, com contraste no tempo arterial, portal e supra-hepático, consegue identificar lesões neoplásicas do fígado com exatidão de 75% a 90%. Porém, lesões menores do que 3 cm têm a sua detecção prejudicada devido à densidade do parênquima hepático normal.
O exame através da Ressonância Nuclear Magnética não apresenta grande diferença em relação ao estudo pela Tomografia Computorizada, quanto à capacidade de identificar os tumores hepáticos primários ou metastáticos. Este exame pode definir um pouco melhor a extensão do tumor nos pacientes com cirrose hepática, assim como demonstrar os vasos principais sem a necessidade de administração de contraste venoso e diferenciar lesões císticas.
A laparoscopia permite uma visualização direta e a biopsia do tumor, além de avaliar a presença ou ausência de disseminação peritoneal. A sua eficácia aumenta quando associada à ultrassonografia videolaparoscópica, aumentando o índice de ressecabilidade dos pacientes selecionados para a laparotomia.
A colangioressonância, a colangiotomografia, a colangiografia endoscópica retrógrada ou percutânea transhepática podem ser úteis no diagnóstico e no planeamento do tratamento dos tumores, principalmente das vias biliares.
TRATAMENTO
Tratamento cirúrgico: O tratamento cirúrgico é o mais indicado nos tumores hepáticos primários, na ausência de metástase à distância e nos tumores hepáticos metastáticos em que a lesão primária foi ressecada ou é passível de ser ressecada de maneira curativa. A eficácia e segurança na recessão hepática são fundamentadas no conhecimento da anatomia e compreensão da fisiologia do fígado. A indicação de uma cirurgia de recessão hepática dependerá do estado clínico do paciente e da quantidade prevista de parênquima hepático restante, que deve ser em torno de 10% do peso corporal. Nos pacientes cirróticos, somente os com a classificação de Child A (cirrose inicial) são candidatos a recessão hepática segura.
Nos últimos anos, o INCA vem incorporando novas práticas, tendo aumentado o número de casos de adultos tratados em 300%, com resultados significativos na redução da morbidade (17,5%) e mortalidade (5,2%) por este tipo de câncer. A adoção da embolização portal, que gera um aumento do fígado sadio, a segmentectomia anatômica, preservando mais fígado, radioablação destruição dos tumores pelo calor e a re-ressecção (ressecções repetidas) têm contribuído para este avanço técnico-científico.
Métodos de controle da perda sanguínea intra-operatória: Pode-se diminuir a necessidade de hemotransfusão durante a ressecção hepática utilizando técnicas de exclusão vascular, hipotermia, hipotensão controlada, aspiração ultra-sónica, coagulação com argônio ou simplesmente atendo às técnicas convencionais de ressecção.
Tratamento complementar: A radioterapia nos tumores hepáticos é limitada pela baixa tolerância do parênquima hepático à radiação. A dose tolerada fica abaixo da necessária para uma efetiva ação antitumoral e controle da lesão, mas acarreta alívio temporário de sintomatologia. É necessário avaliar os riscos de lesão do parênquima hepático normal, limitando muito o emprego desta terapêutica.
A droga mais ativa até o momento (quimioterapia) é a Doxorubicina, para o tratamento de tumores primários e as taxas de resposta giram em torno de 10%. O 5-fluoracil, por via sistémica é a droga mais comum, utilizada de forma isolada ou em associação com o ácido fólico e a Oxiplatina no tratamento de doença colo-retal metastática com respostas em torno de 20% a 30%. A quimioterapia intra-arterial hepática possibilita maior concentração da droga no fígado com menor efeito tóxico sistémico. Por esta via, o Floxuridine tem sido a droga mais empregada no tratamento do câncer colo-retal metastático para o fígado.
Na quimioembolização emprega-se a combinação de drogas e partículas de gel insolúvel, que são infundidas até que haja uma estagnação do fluxo arterial para o tumor, determinando um aumento da concentração local da droga com simultânea isquemia e necrose.
PREVENÇÃO
Muitos cancros de fígado poderiam ser evitados reduzindo-se a exposição aos fatores de risco conhecidos para a doença, tais como:
Evitando infecções por Hepatite: O fator de risco mais significativo é a infecção crónica por hepatite B e C. Estes fatores podem ser evitados não compartilhando agulhas e realizando práticas sexuais seguras. Já existe vacina para prevenção da hepatite B para pessoas em situação de risco. Mas, ainda não existe vacina para a prevenção da hepatite C. Pessoas com alto risco para hepatite B ou C devem fazer testes para essas infecções e tratadas, se necessário.
Redução de álcool e cigarro: O abuso de álcool é uma das principais causas da cirrose, que pode levar ao cancro de fígado. A prevenção dos tumores relacionados ao consume de álcool em excesso continua sendo um desafio. Parar de fumar pode também diminuir ligeiramente o risco, bem como muitas outras doenças potencialmente fatais.
Mantendo um Peso Saudável: Evitar a obesidade pode ser outra maneira para ajudar a se proteger contra o cancro de fígado. Pessoas obesas têm mais chances de ter esteatose hepática (fígado gorduroso) e diabetes, doenças que têm sido relacionadas com cancro de fígado.
Limitando a exposição a produtos químicos cancerígenos: Mudar a forma como certos grãos são armazenados em países tropicais e subtropicais poderia reduzir a exposição às substâncias causadoras de cancro, como as aflatoxinas. A maioria dos países desenvolvidos têm regulamentos para proteger os consumidores e trabalhadores de determinados produtos químicos conhecidos por causar o cancro de fígado.